O papel do amigo crítico no apoio à autoavaliação como mecanismo de introdução de melhoria

O “amigo crítico” é “alguém de confiança que coloca questões provocatórias, fornece dados para serem analisados através de diferentes olhares e critica, como amigo, o trabalho de outra pessoa. Um amigo crítico leva tempo para compreender totalmente o contexto do trabalho apresentado e os resultados que a pessoa ou o grupo procura atingir. O amigo é um apoiante do sucesso desse trabalho.” (MacBeath, 205:267)
Os discursos sobre a auto-avaliação das escolas têm a vindo a registar um aumento progressivo de referências à figura do “amigo crítico”. Para usar um indicador simples, basta dizer que o Google Académico regista, de 1980 a 1999, cerca de 700 menções da expressão “critical friend” e, entre 2000 e 2011, um número quase 6 vezes superior (3900). De acordo com a mesma fonte, progressão semelhante ocorre nas línguas portuguesa e castelhana.
Em Portugal, no âmbito da avaliação das escolas, a ideia foi introduzida pelo Projecto-piloto Europeu sobre Avaliação da Qualidade na Educação Escolar (1995-1999), continuado pelo Projecto Qualidade XXI (desenvolvido pelo IIE, entre 1999 e 2002 e coordenado por J. Borges Palma (1999).
“Penso que um aspecto muito inovador deste Projecto foi a existência do amigo crítico. …O que é que nós esperávamos do amigo crítico? Esperávamos uma visão exterior à Escola, mas que de facto pudesse contribuir para melhorar alguns aspectos da própria Escola” (Fialho, Rodrigues e Ferreira, 2002:35).
Nesses Projectos, a figura do “amigo crítico” era preferencialmente preenchida por quem, trabalhando na área da Educação, tinha experiência profissional como professor e formador de professores e tinha alguma formação acrescida em métodos de investigação (e, em particular, de investigação-acção). Pressupunha-se, como é próprio da amizade, uma atitude de escuta activa, de autêntica “consideração incondicional positiva” pelo trabalho dos professores e demais profissionais da Escola, num quadro de respeito pelos legítimos interesses dos alunos e seus encarregados de educação. Exigia-se ainda que ele não fosse da Escola, que nela não trabalhasse, para lhe permitir desse modo um adequado distanciamento que, aliado a alguma coragem, lhe permitisse exercer a indispensável crítica.
Em resumo, o “amigo crítico”, enquanto tal, vive numa tensão entre a positividade e a negatividade, num esforço de “equilibração” entre o reforço positivo do trabalho realizado (ou até a celebração dos êxitos pelos resultados alcançados) e o desenho dos inadiáveis caminhos de melhoria.
O principal instrumento de trabalho do “amigo crítico” é o diálogo. Baseado seja nos números, nas estatísticas, seja nas descrições, nas narrativas dos episódios significativos, compete-lhe ouvir atentamente, mas também perguntar, questionar. Mais: espera-se que não fique apenas nesse papel relativamente confortável, mas que se arrisque a propor alterações às rotinas ineficazes, a apresentar sugestões de mudanças exequíveis mas inadiáveis e indispensáveis, facilitando um processo de melhoria contínua, em direcção à excelência possível.

 

Bibliografia de apoio

  • Apresentação usada pelo Orador
  • Alaiz, V., Góis, E. & Gonçalves, C. (2003). Auto-avaliação de Escolas. Porto: Edições ASA.
  • Doherty, J., MacBeath, J., Jardine, S., Smith, I., & McCall, J. (2001). Do School Needs Critical Friends? In J. MacBeath & P. Mortimore (Eds.), Improving School Effectiveness (pp. 138-151). Buckingam: Open University Press.
  • Fialho, A. M., Rodrigues, C. M. & Ferreira, J. M. (2002). Viver a Avaliação de Escola. Memória de uma Experiência. Lisboa: Plátano.
  • Leite, C. (2000). A figura do ‘amigo crítico’ no assessoramento /desenvolvimento de escolas curricularmente inteligentes. Paper presented at the O Particular e o Global no Virar do Milénio: Cruzar Saberes em Educação.
  • MacBeath, J., Meuret, D., Schratz, M. & Jakobsen, L. B. (2005). A História de Serena. Viajando Rumo a uma Escola Melhor. Porto: Edições ASA.
  • Palma, J. B. (1999). Introdução ao Projecto Qualidade XXI. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional.
  • Swaffield, S. & Jones, J. (2003). Critical Friendship. InFORM(3). (contém bibliografia específica)